A Lipoproteína(a), ou simplesmente Lp(a), tem ganhado destaque entre os especialistas em cardiologia por representar um dos fatores genéticos mais importantes, e ainda pouco conhecidos, no risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Estruturalmente parecida com o colesterol LDL, o “colesterol ruim”, a Lp(a) carrega um componente extra, a apolipoproteína(a), que a torna significativamente mais perigosa para o coração e os vasos sanguíneos.
“É como se fosse uma partícula de LDL com um ‘capuz’ a mais, que a torna mais agressiva. Por um lado, a Lp(a) se acumula nas paredes das artérias, ajudando a formar placas de gordura. Por outro, esse componente extra atrapalha o processo natural do corpo de dissolver pequenos coágulos. Essa combinação aumenta muito o risco de infarto e AVC, mesmo em pessoas com o colesterol controlado”, explica o cirurgião cardiovascular do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), Raul G. Sanchez Mas.
O nível de Lp(a) é definido pela genética e não muda ao longo da vida, ou seja, não depende da idade, da alimentação ou da prática de exercícios. Ter uma taxa alta dessa substância significa um risco maior para doenças do coração. Por isso, os especialistas recomendam que o exame que mede a Lp(a) seja feito pelo menos uma vez na vida, especialmente na primeira avaliação cardiológica. Ele é ainda mais indicado para quem tem histórico familiar de problemas cardíacos, para quem já teve infarto ou AVC com colesterol normal e para quem apresenta risco moderado ou alto de doenças cardiovasculares.
“A boa notícia é que o exame já está disponível na maioria dos laboratórios e, em muitos casos, é coberto pelos planos de saúde”, informa o médico. “Medir a Lp(a) ajuda a identificar pessoas que parecem ter baixo risco, mas que na verdade podem estar mais vulneráveis por causa de fatores genéticos. Existem pesquisas recentes que testam novas terapias que atuam diretamente no gene responsável pela produção dessa substância no fígado. Esses medicamentos experimentais conseguiram reduzir em até 80% os níveis de Lp(a) e devem chegar ao mercado nos próximos anos, abrindo novas possibilidades de tratamento.”
Enquanto isso, o foco deve estar no controle rigoroso dos outros fatores de risco, como manter o colesterol LDL em níveis baixos, controlar a pressão alta, cuidar bem do diabetes e abandonar o cigarro. “Descobrir níveis altos de Lp(a) não deve ser motivo de pânico, pelo contrário, é uma chance de agir antes que surjam problemas. Essa informação genética permite que médicos e pacientes montem um plano de prevenção personalizado. A medicina está evoluindo rápido e, em breve, teremos novas formas de controle. Por enquanto, o melhor que podemos fazer é cuidar bem do que está ao nosso alcance. Identificar é prevenir, e agir é proteger o coração”, finaliza Sanchez.