Entre benefícios e adversidades, DIU divide opiniões de mulheres

‘Do ponto de vista estatístico, DIU é mais seguro’, diz Patrícia

Assim como os demais métodos anticoncepcionais, os dispositivos intrauterinos (DIUs) dividem opiniões de mulheres que usam ou já usaram. Há quem aprove e há quem não tenha tido experiências positivas. Ainda assim, o DIU, que também é oferecido pelo SUS, é considerado um dos métodos mais seguros para evitar a gravidez.

Gislene Barros, de 39 anos, diz que, após uma experiência ruim com o DIU de cobre, se adaptou ao hormonal. “Coloquei o DIU de cobre em 2021 e usei até 2022. Depois, coloquei o Mirena e estou com ele há um ano e meio. Com o DIU de cobre, eu tinha um fluxo muito alto, até o ponto de ter um princípio de anemia. Fui a outra ginecologista e ela viu que eu tinha três miomas bem pequenos e me disse que o mioma ‘se alimenta’ do sangue. Como com o DIU de cobre o fluxo é maior, ela me recomendou o Mirena, que acaba com o fluxo e trata o mioma. Me adaptei muito bem, não tenho mais menstruação e não tenho sintoma nenhum.”

Talitha Melo, de 39 anos, também só se adaptou ao hormonal. “Uso o DIU Mirena há sete anos. Não conhecia e fiquei sabendo por uma amiga. Coloquei ele gratuitamente pelo SUS, mas por causa do meu fluxo, porque sempre foi muito intenso e eu tinha muita cólica e TPM. Gostei do resultado, em três meses a menstruação foi diminuindo até parar e não tenho dor ou incômodo. Já usei o DIU de cobre, mas não deu certo. Pelo contrário, aumentou o fluxo.”

Usando há pouco tempo o DIU hormonal, Daiane Oliveira Consoline, de 31 anos, diz que, na adaptação, apenas o primeiro dia é incômodo. “Uso o DIU Mirena há duas semanas e tenho achado bom, não tive nenhuma reação, só foi ruim no primeiro dia. Pelo que ouvi, ele é melhor que o de cobre e eu uso por causa do fluxo alto, meu marido já fez vasectomia. Uso quase 60 absorventes em uma semana quando menstruo”, declara.

CONTRAS

Preferindo não se identificar, J.A., de 43 anos, usa o DIU hormonal para controlar as oscilações de humor no período pré-menstrual, mas tem outras reações adversas. “Uso o DIU Mirena há quase um ano, desde agosto de 2022. Sempre tive uma TPM bastante acentuada e diziam que o Mirena auxiliava nisso. Ele realmente auxilia, mas me deixou muito mais ansiosa do que eu ficava antes e de forma constante. Procurei o médico que colocou e pedi para tirar o DIU, mas ele disse que a ansiedade não tem relação com o DIU. Procurei relatos na internet e encontrei vários iguais ao meu, e falando também de outras coisas que sinto, como cansaço e dor nas pernas.”

J.A. também tem queixas relacionadas ao sexo após a colocação do DIU. “Estou com o mesmo parceiro fixo desde que coloquei o DIU, mas mudou a relação sexual. Tenho libido, mas o orgasmo não é como antes. O médico disse que pode ser por causa de estresse. Como vou ter um período de folga, vou esperar para ver se é estresse mesmo, porque o DIU melhorou minha TPM, mas tem essas mudanças”, descreve.

Já Vanessa Ribeiro, de 33 anos, teve uma experiência traumática. “Eu usei o DIU por dois anos, de 2017 a 2019. Eu engravidei usando o DIU de cobre e, na época em que coloquei, estava insegura, porque uma tia engravidou usando. Só que com ela foi tudo bem na gestação. Dizem que você pode engravidar se o DIU sai do lugar, mas tinha feito a revisão em um mês e, no mês seguinte, estava grávida, então não foi descuido.”

“Para mim, o fluxo menstrual aumentou muito, precisava trocar o absorvente a cada duas horas, senão transbordava. Achava que estava menstruando normal, mas era hemorragia. Descobri a gravidez 15 dias antes do aborto que sofri. Tenho gastrite e achava que estava passando mal por causa disso, mas fiz o exame de gravidez e deu positivo. No dia em que sofri o aborto, meu fluxo estava muito alto, sangrei o caminho todo até o hospital. Depois disso, nunca mais quero usar de DIU. Para mim, era melhor que anticoncepcional, mas fiquei traumatizada.”

RECOMENDAÇÕES

Ginecologista, Patrícia Carvalho diz que o DIU é um contraceptivo eficaz. “Do ponto de vista estatístico, ele é mais seguro, pois as taxas de gravidez são menores no grupo de usuárias. Chamamos de LARCs [contraceptivos reversíveis de longa duração], porque são de longa duração e sofrem menos interferências comportamentais, como esquecimento e redução do efeito por agentes externos, como associação a medicamentos.”

A médica diz que o DIU hormonal tem ação terapêutica, além da contraceptiva. Por isso, “avaliar a individualidade de cada mulher é fundamental para evitar possíveis efeitos colaterais. A indicação acontece após anamnese, exame físico e exames complementares”.

E, mesmo sendo de longa duração, o dispositivo exige acompanhamento médico para que permaneça no lugar. “Há situações em que o DIU pode sair do lugar. Menstruação volumosa ou um dispositivo grande para o tamanho do útero, por exemplo. O coletor menstrual pode ser um risco se não houver orientação adequada, mas não seria contraindicado o uso de ambos”, explica.

TIPOS

Professor de ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) e presidente da comissão nacional de anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Rogério Bonassi Machado diz que os DIUs agem ao menos cinco anos na contracepção.

“Os dois tipos são anticoncepcionais, mas cada um tem uma característica. O DIU de cobre libera o cobre dentro do útero e tem alguns efeitos, principalmente sobre a subida dos espermatozoides. Existem estudos que mostram que o cobre seria nocivo para o mecanismo de progressão dos espermatozoides”, diz.

“Já o DIU hormonal tem uma outra característica. O único hormônio utilizado se chama levonorgestrel, que é do grupo dos progestagênios, parecidos com a progesterona. Como todo progestagênio, quando ele é colocado dentro do útero, forma uma espécie de rolha, atuando no muco cervical, faz uma barreira para a subida do espermatozoide no colo do útero.”

Ele lembra que nenhum método contraceptivo é bom para todas as mulheres, por isso existem vários. “O DIU de cobre mantém a menstruação e, por ter uma reação inflamatória no endométrio, algumas vezes aumenta o fluxo. Mulheres propensas a ter mais fluxo menstrual podem até usar o DIU de cobre, mas têm que observar se estão tendo muito sangramento, inclusive que possa levar à anemia. Teria que trocar e colocar o DIU hormonal, essa seria a melhor saída, que na prática a gente faz muito.”

O médico diz que o DIU hormonal age localmente. “No DIU hormonal, as doses de levonorgestrel são locais, então ele não é um método sistêmico, como um injetável ou uma pílula, que vai para o corpo inteiro para depois chegar no alvo, que seria o trato genital e o bloqueio da ovulação. O Mirena só bloqueia o muco, age localmente, então não teria como as doses interferirem no metabolismo geral.”

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